APRESENTAÇÃO DO LIVRO “HISTÓRIAS DA MINHA VIDA”, DE CARLOS PORTAS
Atualizado em 28/08/2020
publicado em 23 de dezembro de 2019
APRESENTAÇÃO DO LIVRO “HISTÓRIAS DA MINHA VIDA”, DE CARLOS PORTAS
Foi apresentado no dia 15 de Dezembro de 2019, no Salão Nobre dos Paços do Concelho de Vila Viçosa, completamente esgotado, o livro “Histórias da Minha Vida”, do Prof. Doutor Carlos Alberto Martins Portas, editado pela SINAPIS Editores. E, certamente, dado que professa um confesso amor por Vila Viçosa, não havia melhor local, do que a sua terra natal para o fazer.
Começamos por referir que o livro, publicado em 2019 em versão portuguesa, foi apoiado em boa hora pela Câmara Municipal de Vila Viçosa. O desenho da capa é da autoria do Arquitecto Nuno Portas, cujos símbolos do património calipolense, vieram precisamente a servir de capa ao livro.
De qualquer modo, importa nesta indagação não esquecer que este dia de apresentação do livro de Carlos Portas não foi apenas uma cerimónia formal de proferir umas breves palavras. Foi, acima de tudo, um reconhecimento e uma cuidada e sentida evocação a quem está detrás da obra, que, neste caso, é um insígne calipolense dotado de uma grande paixão, energia e sensibilidade.
O autor esteve rodeado pela família, por amigos e colegas e por ilustres personalidades que se cruzaram na sua vida profissional, que marcaram o seu percurso, coincidindo em distintos lugares de Portugal e do estrangeiro, e que se encontram unidos por uma comunicação afectuosa e por uma sólida e profunda amizade cimentada com o correr dos anos, tais como Jorge Sampaio, anterior Presidente da República, e João Cravinho, antigo ministro e deputado, entre outros.
Integraram a Mesa da Sessão, Manuel Condenado, Presidente da Câmara Municipal de Vila Viçosa, António Monteiro, prefaciador da obra, Zita Seabra, editora do livro, Luís Capoulas dos Santos, Augusto Ferreira do Amaral, João Caraça e Jorge Böhm, constituindo um conjunto de individualidades próximas do autor. O primeiro orador, Manuel Condenado, apresentou uma alocução na qual referiu o apoio camarário à edição de obras de distinta temática, de autores calipolenses, ou forâneos, sem esquecer as edições municipais como é o caso da Revista de Cultura Callipole, da recente concepção e edição da Carta Arqueológica e do dossiê final de candidatura de Vila Viçosa a Património Mundial da UNESCO. Acrescentou, também, que Carlos Portas é uma importante voz do universo académico, científico e literário calipolense, alentejano, português e, até, mundial. Referiu, para concluir, que o discurso narrativo do livro é inspirado por factos e sentimentos que mantêm uma forte vinculação com a cultura e o imaginário alentejano, sem esquecer naturalmente as ramificações à sua terra natal. Depois, Zita Seabra, que moderou os trabalhos, fez um enquadramento inicial e numa análise advertida salientou que a real dimensão e significação da vida e da obra de Carlos Portas, são muito maiores do que os estreitos limites deste livro. Muitos mais acontecimentos e factos se poderiam escrever. Fez, ainda, questão de acentuar a importância da família de Carlos Portas na sua vida e neste projecto editorial. Logo de seguida, João Caraça, que partilhou com Carlos Portas uma prolífera relação de trabalho, recordou-nos que o seu percurso profissional foi sempre orientado pela missão de serviço. Disse, ainda, que o autor “sempre procurou saber mais para fazer melhor”, e que privilegiou a investigação em rede e multidisciplinar, fortalecida pela força conjugada dos saberes teórico e prático. Seguidamente, no uso da palavra, Luís Capoulas dos Santos, salientou a voracidade e a sofreguidão com que leu o livro, salientando, ainda, as interacções pessoais e profissionais que estabeleceu com Carlos Portas. Explicou que não é por acaso que as diversas facetas da sua vida inspiram respeito e credibilidade. E não é com certeza por acaso que é um pioneiro na inovação tecnológica e uma personagem de destaque na história da agricultura portuguesa do Século XX. Já na intervenção de Jorge Böhm, foram abordadas outras vertentes significativas da obra de Carlos Portas, com especial destaque para a introdução de um novo espírito na agricultura portuguesa e na inovação tecnológica e para a reflexão sobre a importância das suas publicações no debate intelectual. Destacou a lucidez e a sensibilidade do autor no processo de modernização da agricultura, que sabia que não é automático nem espontâneo. Concluiu, reafirmando a sua grande vocação de inspirar e de defender intransigentemente a qualidade e o progresso da agricultura portuguesa. Por seu lado, Augusto Ferreira do Amaral alargou os méritos de Carlos Portas a outros aspectos menos conhecidos, mas não menos importantes. Chamou a atenção para as qualidades morais e também políticas, com letras de vulto, considerando que, para Carlos Portas, a política é um ramo da ética. Acrescentou que a sua obra é um filão muito importante do ponto de vista do conhecimento das mentalidades do mundo rural de Novecentos. Noutro momento da sua intervenção, lembrou ainda que num período ensombrado de preocupações, convulsões e efervescência de opiniões, em que a agricultura atravessou dificuldades e conheceu uma certa languidez e restrições, soube compreender melhor do que ninguém que a Reforma Agrária era também uma questão de concepção, de ordenação, de organização e de desenvolvimento tecnológico, passíveis de traçar estratégias de médio e de longo prazos orientadas para o progresso de um sector muito importante para o país. E, por último, António Monteiro, que participou, directa ou indirectamente, nalguns acontecimentos narrados no livro, apresentou uma dilucidação rigorosa e informada da personalidade e da biografia do autor, que tão bem expressou quando disse que Carlos Portas foi um Homem à frente do seu tempo, que alicerçou a sua acção nos valores da cultura humanista e católica e que sempre colocou as pessoas acima de tudo. António Monteiro, ao fechar o ciclo de intervenções, afirmou que Carlos Portas “é um eucalipto ao contrário: ao lado dele tudo cresce”. Reafirmou que sempre promoveu alianças entre a experiência concreta e o saber abstracto, numa lógica do abandono de visões pessoais e da busca de outras que as complementem ou ampliem. Por fim, enalteceu o seu labor no domínio da internacionalização da Horticultura e da criação da Associação Portuguesa de Horticultura, da qual foi o seu primeiro presidente.
Enfim, as palavras sensíveis de todos os oradores tiveram como denominador comum uma reflexão sobre a vida e a obra de Carlos Portas, enaltecendo as suas qualidades profissionais e humanas, que os testemunhos aqui reunidos confirmam de forma irrefutável.
Há o Carlos Portas professor e há o Carlos Portas investigador de Horticultura, há o escritor, e há o político; há o conferencista; o empresário agrícola e o dirigente associativo; há ainda o agrónomo visionário na área da Horticultura e o autor de uma obra singular e de referência.
Mas, não é possível escrever esta nota sem olhar para o livro deste ilustre calipolense, que contém um notável prefácio da autoria de António Monteiro. A proposição merecia um largo comento, que não cabe neste espaço. Ainda assim é lícito dizer, embora em breve trecho, que as páginas do livro Histórias da Minha Vida, assim intitulou Carlos Portas a sua obra e que já permite adivinhar o espírito que enforma o seu labor, encerram amplas perspectivas históricas e episódios inovadores da sua vida e obra, fundamentadas em muitos documentos históricos e profusamente ilustrada. Muito tempo a ler, a investigar, a examinar correspondência pessoal, a consultar documentos, a rever entrevistas, a esmiuçar apontamentos e anotações e a escrever culminaram nestas Memórias, evocativas do seu percurso de vida familiar, académico, humano e societário, assim como de lugares que marcaram a sua vida e de diversas pessoas que se cruzam entre diferentes territórios e conceitos.
Esta leitura não é porém satisfatória. Este livro, escrito em linguagem simples e cristalina, que se expande livremente e que emana pura, fácil e viva como a água borbulhante de uma fonte, acessível mesmo a leitores não especializados, constitui uma surpreendente viagem através da história e da estrutura do mundo rural do século XX e representa um valioso contributo para a sua compreensão. Sem adornos desnecessários e com uma brevidade ajustada e cabal, vai definindo a realidade com uma meticulosidade tão certeira como inquietante.
Nesta obra arrumam-se textos abrangentes e transversais, sobre várias pessoas que se cruzam da sua vida sobre distintos contextos ou sobre períodos da sua vida profissional, entrelaçada com a familiar, a pessoal e a institucional. Inclui nos seus doze capítulos, uma secção dedicada à sua terra natal, a que chamou A Vila Viçosa – retratos de 1940-50´s.
Mas, esta obra acaba, também, por revelar o lado mais pessoal de Carlos Portas, os seus pensamentos, valores e princípios, e constitui uma fonte que nos permite vislumbrar a personalidade e a mentalidade de um Homem de carácter discreto, positivo e dialogante, mas que transborda de vitalidade. Umas “Memórias Inacabadas”, talvez fosse o título certo, assim descreve o autor o processo de escrita deste livro, afirmando que decidiu “abrir o seu álbum nas páginas menos conhecidas e naquelas que viveu intensamente”.
Tomando como ponto de partida a apresentação do referido livro, cabe talvez recordar que a obra de Carlos Portas, é um bom serviço à literatura e é, ao mesmo tempo, um tratado sobre a vida. No fundo de tanta palavra e de tanta narração sempre latejam os tópicos do amor pela família, da paixão pelo trabalho e da curiosidade pela vida, que são reconhecíveis em muitos escritos da sua autoria e, sobretudo, na sua prática quotidiana.
Depois da sumária visita à composição do discurso narrativo do livro Histórias da Minha Vida, percebendo o que nele há de reflexões, de histórias e de confluências de dimensões de vida, desde uma leitura que atravessa a nossa história contemporânea, vale a pena prosseguir no rasto da estatura do Homem Carlos Portas. É agora nosso propósito sublinhar uma parte importante das características marcantes da sua pessoa, e começarei ressaltando, a modo de exemplo, um ditado muito apropriado. Um velho provérbio oriental lembra que quando o vento sopra forte há quem levante muros e há quem construa moinhos de vento. À atitude defensiva de quem constrói muros para se proteger, Carlos Portas preferiu a inspiração, a inovação e a vocação de quem usa o vento como energia. Em tempos marcados por grandes convulsões políticas e sociais, conseguiu sobrepor-se às vicissitudes endógenas e exógenas e às derivas e ameaças. É nestes termos que a evocação da figura de Carlos Portas é importante.
Poderíamos tecer aqui amplas considerações, se o tempo o permitisse, acerca de outras perspectivas e de diferentes manifestações a propósito deste livro de Memórias assumido por Carlos Portas e sobre a dimensão científica, académica e moral do seu autor. A sequência narrativa é de resumo imediato: as anotações que deixamos terão sido suficientes para medir bem a importância da sua vida e obra. Por isso, talvez não sejam precisas mais explicações nem qualquer outra apreciação. Fale por nós a vastidão, a qualidade e o alto valor deste livro que se chama Histórias da Minha Vida.